Na madrugada de segunda-feira, 9 de junho de 2025, caminhoneiros pararam as estradas de Minas Gerais — e em poucas horas, as bombas de gasolina em Belo Horizonte começaram a secar. Em um posto na avenida Teresa Cristina, só uma das cinco bombas ainda tinha combustível. O frentista, sem disfarçar a ansiedade, disse: "Ninguém sabe quando vem o próximo caminhão". O que parecia um problema local já se transforma em crise estadual. Segundo o Minaspetro, sindicato que representa os revendedores de combustíveis no estado, os estoques da bandeira Vibra Energia — antiga BR Distribuidora — estão em níveis "extremamente baixos". E isso não é exagero. Milhares de postos, que juntos representam 16% do mercado mineiro, correm risco real de ficar sem gasolina, diesel e etanol nos próximos dias.
Por que os caminhoneiros estão parando?
A greve não surgiu do nada. Ela é o grito de um setor que se sente esquecido. Irani Gomes, presidente da entidade que representa os caminhoneiros em greve, é claro: "Não queremos parar o país. Queremos que cumpram a lei". Ele se refere à Lei 13.703/2018, que estabelece um piso mínimo de frete para evitar que transportadores sejam explorados por preços irrisórios, e à Lei 10.209/2001, que garante o vale-pedágio obrigatório. Ambas são leis antigas — mas mal aplicadas. Muitos motoristas relatam que, mesmo após anos de cobrança, as empresas não pagam o valor mínimo por quilômetro rodado. E os pedágios? Em muitos casos, o custo é descontado da carga do caminhoneiro, não da transportadora. "É como se o governo criasse uma regra e depois dissesse: 'Faz o que quiser, não vamos fiscalizar'", diz um caminhoneiro de Uberlândia, que pediu para não ser identificado.
O que diz a Vibra Energia?
A Vibra Energia respondeu com um comunicado técnico, quase frio: "Estamos adotando todas as medidas necessárias para mitigar eventuais riscos de desabastecimento". Mas o que isso significa na prática? Nada de caminhões novos saindo das distribuidoras. Nada de rotas alternativas em larga escala. A empresa afirma que "os contratos estão vigentes" — mas não diz se vai reajustar os valores ou negociar com os motoristas. E mais: repudia "qualquer tentativa de combinação coletiva de preços". É uma frase que soa como uma ameaça legal. Mas os caminhoneiros não estão pedindo aumento de preço. Estão pedindo que respeitem leis já existentes. A contradição é gritante.
Um estado em alerta
Minas Gerais é o segundo maior consumidor de combustíveis do Brasil. O setor de transporte responde por quase 12% do PIB nacional — e quase todos os caminhões que circulam aqui usam diesel ou gasolina. O Minaspetro calcula que, se a greve durar mais de 72 horas, pelo menos 30% dos postos da bandeira Vibra poderão fechar temporariamente. Em cidades como Juiz de Fora, Montes Claros e Uberaba, já há relatos de filas de carros em postos vazios. Em Belo Horizonte, alguns estabelecimentos estão vendendo apenas 10 litros por cliente. "É o caos controlado", diz uma dona de posto em Contagem. "Ninguém sabe se vai ter combustível amanhã. E se não tiver, o que a gente faz?"
O cenário nacional começa a piorar
Isso não é só um problema mineiro. O Jornal Anhanguera confirmou em 5 de setembro de 2025 que carretas de combustível estão paradas em distribuidoras de São Paulo, Goiás e Paraná. Em Catalão, Goiás, 30% da frota de ônibus urbanos foi reduzida. Botijões de gás também estão sumindo — e isso afeta restaurantes, padarias, hospitais. "A greve dos caminhoneiros não é só sobre frete. É sobre a sobrevivência de milhares de pequenos negócios", afirma o economista Carlos Alberto Mendes, da UFMG. "Se o combustível não chega, o pão não sai do forno, o remédio não chega ao posto de saúde, o leite não vai ao mercado. É um efeito dominó que ninguém quer ver."
A Petrobras, dona da Vibra Energia até 2019, mantém silêncio. A empresa de economia mista, Petróleo Brasileiro S.A., não emitiu nota oficial. Mas o fato de a distribuidora ser sua filial torna a pressão política inevitável. Enquanto isso, os petroleiros — que já estão em estado de greve desde 10 de novembro de 2025 após rejeitarem o acordo coletivo da Petrobras — criam um cenário de tensão dupla. Dois setores estratégicos, dois movimentos distintos, mas com o mesmo alvo: o poder da Petrobras e do governo federal.
O que vem a seguir?
As negociações estão congeladas. O governo federal ainda não se manifestou. O Ministério dos Transportes diz que "monitora a situação" — mas não oferece mediadores. O presidente da Câmara dos Deputados já foi procurado por parlamentares mineiros, mas não há sinal de agenda. Enquanto isso, o tempo corre. A cada hora que passa sem acordo, o risco de desabastecimento aumenta. E com ele, a possibilidade de uma crise maior: inflação nos preços dos alimentos, paralisação de indústrias, aumento do desemprego. "Isso não é uma greve. É um alerta vermelho para o país", diz Gomes. "Se não resolvermos agora, vamos ter que enfrentar algo muito pior em breve."
Por que isso importa para você?
Se você dirige, trabalha em um posto, tem um negócio que depende de entrega, ou só precisa abastecer o carro para ir ao trabalho — você já está afetado. O sistema de transporte brasileiro é como um coração: se a bomba para, tudo para. E esse não é um problema técnico. É político. É social. É econômico. E está acontecendo agora.
Frequently Asked Questions
Como a greve dos caminhoneiros afeta os postos da Petrobras?
A Petrobras não opera diretamente os postos, mas sua filial, a Vibra Energia, é responsável por 16% da distribuição de combustíveis em Minas Gerais. Com os caminhoneiros em greve, as entregas de gasolina, diesel e etanol foram interrompidas. Isso esvaziou os estoques nos postos da marca, e muitos já estão operando com apenas uma bomba ativa. Sem novas remessas, o desabastecimento pode se espalhar em menos de 72 horas.
Quais são as leis que os caminhoneiros estão exigindo que sejam cumpridas?
Eles exigem o cumprimento da Lei 13.703/2018, que garante um piso mínimo de frete para evitar exploração, e da Lei 10.209/2001, que obriga as empresas a pagarem o vale-pedágio. Ambas existem há anos, mas são ignoradas por muitas transportadoras e distribuidoras. Os motoristas não pedem aumento — pedem que respeitem o que já está na lei.
A Vibra Energia está negociando com os caminhoneiros?
A empresa afirma estar "aberta ao diálogo individual", mas rejeita qualquer negociação coletiva, classificando-a como "infração à lei de defesa da concorrência". Isso bloqueia qualquer avanço real, já que os caminhoneiros atuam como grupo. Sem negociação coletiva, o conflito só se agrava. Até agora, não houve mediação do governo.
O que pode acontecer se a greve continuar por mais de uma semana?
Além do desabastecimento em postos, há risco de paralisação de transportes públicos, aumento de preços de alimentos e insumos, e até fechamento de pequenos negócios. Em Goiás, já houve redução de 30% na frota de ônibus. Em Minas, hospitais e farmácias começam a sentir a pressão. Se o governo não intervir, a crise pode se espalhar para outros estados, gerando impactos diretos no PIB, já que o transporte responde por 12% da economia nacional.
Por que a Petrobras não está se manifestando?
A Petrobras não é a operadora direta dos postos — isso é feito pela Vibra Energia, sua filial. Mas como controladora majoritária, sua omissão é interpretada como falta de liderança. A empresa prefere deixar a distribuidora lidar com o conflito, mesmo que isso aumente o risco de desabastecimento. Isso gera frustração tanto nos motoristas quanto nos revendedores, que veem a Petrobras como a única entidade com poder real para resolver o impasse.
Existe precedente histórico para essa greve?
Sim. Em 2018, uma greve similar paralisou o país por 10 dias, causando escassez de combustível, inflação e até falta de remédios. Na época, o governo recuou e garantiu o cumprimento da Lei do Piso Mínimo. Mas as promessas não foram mantidas. Agora, os caminhoneiros não querem promessas — querem ação. E dessa vez, não estão sozinhos: a crise energética já se conecta com a greve dos petroleiros, criando um cenário de pressão sem precedentes.