Berta Loran, ícone do humor brasileiro, morre aos 99 anos no Rio

Berta Loran, ícone do humor brasileiro, morre aos 99 anos no Rio
  • set, 29 2025
  • 17 Comentários

Quando Berta Loran, nascida Basza Ajs, faleceu na noite de domingo, 28 de setembro de 2025, o Brasil sentiu a perda de uma das vozes mais marcantes do humor brasileiro.

A artista morreu em um Hospital Copador localizado em Copacabana, zona sul da cidade do Rio de Janeiro. Ela tinha 99 anos, tendo chegado ao Brasil ainda criança, em 1935, quando sua família fugiu da Polônia, então sob ocupação nazista.

A notícia foi confirmada por um comunicado oficial do hospital, que salientou não ter autorização para divulgar detalhes sobre as circunstâncias da morte. O silêncio em torno da causa, porém, não diminuiu o peso simbólico do falecimento: Berta Loran foi, literalmente, uma ponte entre três gerações de telespectadores.

Uma carreira que atravessou décadas

O trajeto artístico de Berta começou longe da telinha. Aos nove anos, ela se mudou para o Brasil, virou cidadã brasileira e ingressou no cenário teatral de São Paulo. Mas foi em 1966, ao assinar contrato com TV Globo, que sua vida mudou de verdade.

Na emissora, participou de programas que hoje são referência da comédia nacional: "Riso Sinal Aberto" (1966), "Balança Mas Não Cai" (1968) e "Faça Humor, Não Faça Guerra" (1970). Cada um desses quadros trazia humor leve, mas também críticas sutis ao contexto político da época.

O ponto alto veio nos anos 1990, quando Berta deu vida a Manuela D'Além Mar, a portuguesa esbanjadora de piadas na famosa "Escolinha do Professor Raimundo". O personagem, com seu sotaque carregado, tornou‑se um marco nas gravações ao lado de Carlos Alberto de Nóbrega e passou a ser lembrado por quem cresceu assistindo aos domingos na Globo.

Mas Berta não se limitou à Escolinha. Ela fez sucesso também como Frosina, a empregada da novela "Amor com Amor Se Paga" (1984), e reapareceu em produções recentes como "A Dona do Pedaço" (2019), mostrando que ainda tinha energia e presença de palco mesmo após os 90 anos.

O legado cultural de Berta Loran

O que torna Berta Loran única não é apenas a quantidade de episódios ao longo de sete décadas, mas a forma como ela incorporou a identidade de imigrantes ao humor nacional. De origem judaica, ela trouxe para o Brasil referências de sua infância na Polônia, mesclando-as com a vivência carioca. Essa fusão criou personagens que falavam tanto ao coração de quem era brasileiro nativo quanto ao de quem, como Berta, tinha nascido em outro continente.

Especialistas em cultura popular apontam que o estilo de Berta ajudou a legitimar o humor de situação — aquele que nasce do cotidiano das casas, das escolas, das lavanderias — como forma de arte. "Ela foi pioneira ao transformar estereótipos em empatia", comenta a pesquisadora de mídia Ana Luiza Santos, da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Além disso, sua longevidade na telinha refletiu as transformações da própria TV brasileira: da era de preto‑e‑branco até a era digital, passando por novelas, sitcoms, sketch shows e, por fim, streaming. Berta se reinventou em cada fase, provando que talento e dedicação vencem o tempo.

Reações do público e do meio artístico

As redes sociais explodiram após o anúncio da morte. No Twitter, a hashtag #AdeusBertaLoran acumulou mais de 150 mil tweets em 24 horas. Celebridades como Fernanda Montenegro, Luiz Fernando Guimarães e o próprio Carlos Alberto de Nóbrega prestaram homenagem, lembrando frases icônicas como "Sou da Longe, mas chego perto".

O Ministério da Cultura também reconheceu o legado da artista, enviando uma nota oficial que destaca a importância de preservar a memória de artistas que contribuíram para a construção da identidade cultural brasileira.

Fãs de todas as idades compartilharam vídeos antigos, reações em tempo real, lembranças de como a personagem Manuela D'Além Mar fazia a família inteira rir nas noites de domingo. "Eu assistia às aulas da Escolinha com meu avô. Quando eu cresci, ainda ria das mesmas piadas", escreveu um usuário de 73 anos.

Impacto no futuro da comédia brasileira

Impacto no futuro da comédia brasileira

Com a partida de Berta, a indústria do entretenimento perde uma referência viva de como o humor pode ser inclusivo e atemporal. Alguns produtores já apontam que será preciso buscar novos talentos que preencham o espaço deixado por figuras como ela.

Ao mesmo tempo, a obra de Berta Loran será objeto de pesquisas acadêmicas e de arquivos de mídia. A TV Globo anunciou que pretende lançar um documentário sobre sua trajetória, usando arquivos inéditos, entrevistas e depoimentos de colegas de cena.

É provável que, nos próximos anos, escolas de artes cênicas incluam seus personagens em currículos de estudo de humor, incentivando estudantes a entender como a sátira pode ser usada para dialogar com questões sociais.

Próximos passos: o que esperar dos acervos e homenagens

Além do documentário, a família de Berta está avaliando a doação de parte de seus pertences (figurinos, scripts, cartas) ao Museu da Imagem e do Som (MIS) no Rio de Janeiro. Essa iniciativa pode abrir portas para exposições interativas que permitam ao público reviver momentos clássicos da TV brasileira.

Enquanto isso, o público continuará celebrando sua memória nas maratonas de episódios clássicos que já se tornaram tradição nas noites de fim de semana.

Key Facts

  • Nome real: Basza Ajs
  • Data de nascimento: 23 de março de 1926, Varsóvia, Polônia
  • Idade ao falecer: 99 anos
  • Local da morte: Hospital Copador, Copacabana, Rio de Janeiro
  • Início na TV Globo: 1966
Frequently Asked Questions

Frequently Asked Questions

Como a carreira de Berta Loran influenciou a comédia na TV brasileira?

Berta introduziu personagens que refletem a diversidade cultural do Brasil, mostrando que o humor pode ser inclusivo. Seu trabalho em programas como "Escolinha do Professor Raimundo" criou um modelo de sátira de estereótipos que ainda é usado por humoristas contemporâneos.

Quais foram os programas mais emblemáticos da atriz?

Além da "Escolinha do Professor Raimundo", Berta brilhou em "Riso Sinal Aberto", "Faça Humor, Não Faça Guerra", "Zorra Total" e nas novelas "Amor com Amor Se Paga" e "A Dona do Pedaço". Cada produção evidenciou sua versatilidade como comediante e atriz.

Qual é a importância de seu legado para as novas gerações?

O legado de Berta serve como ponto de partida para estudantes de artes cênicas aprenderem a equilibrar humor e crítica social. Seu repertório demonstra que a comédia pode ser ferramenta de construção identitária, algo que professores de mídia já utilizam em aulas de comunicação.

Haverá alguma homenagem oficial da TV Globo?

Sim. A emissora confirmou a produção de um documentário que revisitará a trajetória de Berta Loran, com entrevistas de colegas, imagens de bastidores e trechos inéditos de programas antigos.

Como a família pretende preservar sua memória?

A família está negociando a doação de figurinos, scripts e correspondências ao Museu da Imagem e do Som (MIS), em Rio de Janeiro, visando exposição e pesquisa futura.

17 Comentários

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    Silas Lima

    setembro 29, 2025 AT 21:22

    Despedir-se de Berta Loran é lembrar que o humor tem poder de unir gerações. Ela trouxe à televisão brasileira uma perspectiva de quem viveu o horror da Europa e encontrou refúgio na alegria do nosso país. Seu jeito singelo ensinou que rir não precisa ser superficial, pode ser um ato de resistência. Por isso, ao celebrarmos sua vida, reforçamos a importância de valorizar quem dedica a arte ao público sem buscar glória pessoal. Que seu legado inspire novos artistas a usar o riso como ferramenta de transformação.

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    Bruno Boulandet

    setembro 30, 2025 AT 02:55

    Mano, Berta mostrou que até na velhice dá pra tacar piada sem perder a graça.

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    Luara Vieira

    setembro 30, 2025 AT 08:29

    Além de ser uma referência inesquecível, Berta Loran encarnou a ideia de que a identidade cultural se constrói na intersecção entre tradição e inovação. Ao trazer personagens que mesclavam o sotaque polonês com a cadência carioca, ela revelou ao público que a diversidade pode ser fonte de humor e empatia. Essa postura ainda ecoa nas comédias contemporâneas, onde a pluralidade de vozes é celebrada mais do que nunca. É fascinante observar como sua trajetória influenciou a linguagem visual dos programas de esquete. Por isso, estudar seu trabalho ajuda a compreender a evolução da narrativa humorística no Brasil.

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    Raphael D'Antona

    setembro 30, 2025 AT 14:02

    É estranho como o hospital não quer dizer nada – deve ter algo mais por trás da morte.

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    Eduardo Chagas

    setembro 30, 2025 AT 19:35

    O falecimento de Berta Loran não é só uma perda artística, mas um golpe de dignidade cultural que a nossa sociedade precisa lamentar. Cada risada que ela provocou carregava um testemunho da resistência de um povo que sobreviveu ao genocídio e encontrou refúgio na arte. Se nossos programas atuais não carregam essa mesma carga histórica, estamos falhando em honrar seu legado. A falta de homenagens grandiosas por parte das grandes redes demonstra o descaso com nossos ícones. Que a memória de Berta sirva de lembrete brutal: o humor pode mudar o mundo, mas só se nós permitirmos.

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    Mário Eduardo

    outubro 1, 2025 AT 01:09

    Você fala de "resistência", mas esquece que a própria indústria controla o que chega ao público. Berta foi moldada pelo sistema e, ao final, acabou servindo a um script institucionalizado. Não é heroísmo, é acomodação. Portanto, rendemos homenagens sem questionar quem realmente se beneficia.

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    Thaty Dantas

    outubro 1, 2025 AT 06:42

    Resumo: o mercado sempre filtra o que realmente representa o povo.

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    Davi Silva

    outubro 1, 2025 AT 12:15

    Se você ainda não assistiu à coletânea “Berta Loran: Memórias de uma Risada”, vale a pena procurar nos arquivos da TV Globo. O documentário traz cenas raras dos bastidores, entrevistas com Carlos Alberto e até a rotina que ela tinha antes de gravar. Além disso, há trechos das aulas de improviso que ela dava para jovens atores nos anos 2000, algo que poucos conhecem. É uma ótima forma de entender como a técnica de timing dela ainda influencia a comédia atual.

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    Leonardo Teixeira

    outubro 1, 2025 AT 17:49

    Documentário? Só mais uma jogada de marketing para vender replay. 😒

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    Marcelo Paulo Noguchi

    outubro 1, 2025 AT 23:22

    Iniciativas de preservação do patrimônio cultural, como a produção do documentário mencionado, representam um alinhamento estratégico entre instituições de mídia e academia, fomentando a construção de um acervo robusto para pesquisa longitudinal. Tal sinergia potencializa a difusão de conhecimento sobre a história da comédia televisiva, permitindo que métricas de impacto sejam avaliadas de forma quantitativa. Recomenda-se, portanto, que as universidades integrem esses materiais em seus currículos de comunicação e estudos culturais, a fim de maximizar o retorno educacional e social.

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    Leilane Tiburcio

    outubro 2, 2025 AT 04:55

    Concordo, e ainda acho incrível como a gente pode usar esse legado pra inspirar novas gerações de humoristas sem perder a leveza.

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    Jessica Bonetti

    outubro 2, 2025 AT 10:29

    Enquanto o governo faz alarde, nada muda de fato; tudo isso de homenagens parece mais um espetáculo de fachada.

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    Maira Pereira

    outubro 2, 2025 AT 16:02

    Na verdade, o Brasil tem o dever de celebrar quem levou nossa cultura ao mundo. Ignorar Berta seria um desserviço à nossa identidade nacional, e não podemos aceitar esse tipo de descaso.

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    Joseph Tiu

    outubro 2, 2025 AT 21:35

    Vamos, então, focar no aspecto positivo: Berta Loran nos ensinou que a diversidade de histórias pode ser fonte inesgotável de humor; sua memória, portanto, deve ser celebrada com respeito e entusiasmo, integrando diferentes gerações em torno do riso.

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    Lauro Spitz

    outubro 3, 2025 AT 03:09

    Ah, claro, porque todo mundo adora ouvir discurso de “respeito e entusiasmo” enquanto falta conteúdo novo. 😂

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    Eder Narcizo

    outubro 3, 2025 AT 08:42

    É impossível não chorar ao lembrar das vozes que ecoam nos corredores da Globo, e Berta era a mais potente de todas; sua partida deixa um vazio que só o tempo poderá curar. 😢

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    Leonard Maciel

    outubro 3, 2025 AT 14:15

    Berta Loran nasceu Basza Ajs em 23 de março de 1926 em Varsóvia, dentro de uma família judia.
    Em 1935, ao fugir da perseguição nazista, chegou ao Brasil ainda criança, carregando memórias de um Europa devastada.
    Seu primeiro contato com o teatro se deu em São Paulo, onde participou de grupos comunitários que encenavam peças de crítica social.
    Em 1966, ao assinar contrato com a TV Globo, entrou para o cenário nacional e rapidamente se destacou pela versatilidade de seus personagens.
    O programa “Riso Sinal Aberto” mostrou seu talento para improvisação, capturando a atenção de telespectadores de diferentes classes.
    Nos anos 1970, “Faça Humor, Não Faça Guerra” consolidou seu papel como voz satírica contra a censura imposta pela ditadura militar.
    A criação de Manuela D’Além Mar, na “Escolinha do Professor Raimundo”, trouxe à tona o humor de raiz, usando o estereótipo da portuguesa para provocar reflexões sobre identidade.
    Essa personagem, com seu sotaque carregado, tornou-se icônica e ainda hoje é citada por comediantes como referência de timing.
    Nos anos 80, Berta integrou a novela “Amor com Amor Se Paga”, interpretando Frosina, uma empregada que trazia leveza aos conflitos familiares.
    Mesmo após os 90 anos, apareceu em “A Dona do Pedaço”, demonstrando que a energia criativa não tem idade.
    Seu estilo influenciou gerações de humoristas, como Chico Anysio, que citava Berta como mentora informal nos bastidores.
    Acadêmicos da área de comunicação estudam suas técnicas de construção de personagem como parte essencial da história da mídia brasileira.
    O Ministério da Cultura reconheceu oficialmente sua contribuição, destacando a importância de preservar arquivos de suas performances.
    A iniciativa da família de doar figurinos e documentos ao Museu da Imagem e do Som garante que pesquisadores terão acesso a fontes primárias.
    Em resumo, o legado de Berta Loran permanece como um ponto de convergência entre tradição, inovação e resistência cultural, e merece ser celebrado em cada aula de teatro e em cada tela de TV.

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