Quando Ambipar viu suas ações dispararem de R$ 8,42 em 17 de junho de 2024 para R$ 19,25 em 8 de julho, o mercado ficou em choque.
O salto foi explicado por Bruce Barbosa, analista da Nord Research, que apontou um movimento de short squeeze na B3, a bolsa brasileira.
Mas a história da Ambipar não parou aí; menos de dois anos depois, em outubro de 2025, a companhia entrou em colapso após solicitar proteção judicial contra credores, levando a uma queda de 93 % nas ações.
O salto de 127% em junho‑julho de 2024
O movimento começou em 3 de junho, quando a alta de 17 % nas cotações coincidiu com a divulgação de novas projeções financeiras. A Nord Research destacou que a valorização não refletia mudanças operacionais, mas sim a pressão de investidores que “alugaram” ações em massa, forçando os vendedores a cobrir posições.
Esse tipo de "short squeeze" costuma acontecer quando a oferta de ações para aluguel se esgota e o limite máximo da bolsa é atingido, gerando uma corrida para recomprar papéis.
- Preço inicial (17/06/2024): R$ 8,42
- Preço após o squeeze (08/07/2024): R$ 19,25
- Aumento acumulado: 127 %
Por que o movimento não refletiu fundamentos
Apesar da euforia, os indicadores da empresa permaneciam frágeis. A Ambipar ainda enfrentava desafios de execução nas áreas de captação de resíduos e respostas a emergências ambientais.
A alta artificial também atraiu a atenção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que iniciou investigação para verificar se houve manipulação de mercado ou abuso de informação privilegiada.
Investidores de varejo compraram Certificados de Operações Estruturadas (COEs) vinculados à Ambipar através do BTG Pactual, atraídos pelo slogan "O retorno da renda variável, com a segurança da renda fixa". Quando o preço recuou, os COEs perderam valor significativamente.
O colapso de outubro de 2025 e a proteção judicial
Em 24 de setembro de 2025, a empresa obteve na Justiça um pedido de proteção contra credores. O argumento era a "impactos financeiros negativos" de derivativos ligados a green bonds emitidos pelo grupo.
Na primeira segunda‑feira de outubro (06/10/2025), as ações caíram 28,57 % para R$ 1,00, tocando a mínima de R$ 0,93 durante o pregão. Apenas uma semana antes, a cotação havia sido de R$ 2,54 – uma queda de 64,43 % em poucos dias.
O drama abalou não só acionistas individuais, mas também grandes investidores institucionais, como o BlueBank, controlado por Maurício Quadrado. O banco havia investido pesado na Ambipar em 2024, quando as ações subiram dez vezes, multiplicando seus ativos.

Impactos nos investidores e no BlueBank
Os COEs emitidos entre fevereiro 2024 e março 2025 tinham vencimentos entre 2031 e 2033, pagando juros periódicos. Quando a ação despencou, os investidores perderam milhares de reais, e o BTG Pactual teve que responder a reclamações de clientes.
Para o BlueBank, a crise significou um golpe de efeito dominó. A valorização de 2024 havia inflado o balanço do banco, mas a queda de 2025 exigiu a reavaliação de todo o portfólio. Quadrado acabou colocando o banco à venda, entrando em concorrência com seu antigo sócio Daniel Vorcaro, que também busca comprador para o Will Bank.
Reação da CVM e perspectivas futuras
A CVM, após analisar o histórico de negociação acima de 100 x lucro, determinou que há indícios de manipulação e abriu sindicância. Enquanto isso, a Ambipar tenta negociar com credores para evitar a recuperação judicial formal.
Especialistas da Empiricus apontam que a volatilidade extrema evidencia a necessidade de mais transparência em operações com derivativos ligados a títulos verdes. Se a empresa conseguir reestruturar seu endividamento, ainda pode recuperar parte da confiança dos investidores.
O que está em jogo? Além de bilhões de reais em ativos, há a credibilidade do mercado brasileiro de capitais. Uma solução negociada pode servir de precedente para outras companhias que utilizam instrumentos financeiros complexos.

Conclusão
O caso Ambipar mostra como um movimento de curto prazo, como o short squeeze, pode criar expectativas ilusórias, e como vulnerabilidades estruturais acabam vir à tona quando o hype desaparece. Resta acompanhar os próximos passos da empresa, da CVM e dos credores, que serão decisivos para definir se a Ambipar conseguirá se reerguer ou se será apenas mais um exemplo de colapso no mercado acionário.
Perguntas Frequentes
Como o short squeeze afetou os investidores de varejo?
Os investidores que compraram a ação Ambipar durante o salto de 127 % viram ganhos rápidos, mas, ao entrar o movimento de baixa, perderam grande parte desses lucros. Muitos ainda carregam posições e aguardam recuperação, mas o risco permanece alto.
Qual foi o papel da Nord Research na análise do movimento?
A Nord Research, por meio de seu analista Bruce Barbosa, identificou que a alta não tinha base nos fundamentos operacionais da Ambipar e apontou o short squeeze como a principal causa, alertando investidores sobre a fragilidade do rally.
De que forma o BlueBank foi impactado?
O BlueBank havia investido pesado na Ambipar em 2024, o que multiplicou seus ativos em torno de dez vezes. Quando a ação despencou, o valor desses investimentos encolheu drasticamente, forçando o banco a buscar compradores e a reconsiderar sua estratégia de carteira.
O que a CVM está investigando exatamente?
A CVM abriu investigação para verificar se houve manipulação de mercado na negociação das ações da Ambipar, especialmente durante o período em que o preço ultrapassou 100 x lucro, e se os COEs oferecidos pelo BTG Pactual cumpriram as exigências de transparência.
Quais são as perspectivas para a Ambipar nos próximos meses?
A empresa está negociando com credores para evitar a recuperação judicial. Se conseguir reestruturar sua dívida e melhorar a liquidez, pode recuperar parte da confiança dos investidores; caso contrário, o risco de falência permanece alto.
Raif Arantes
outubro 9, 2025 AT 01:44Isso é um espetáculo de manipulação total!