33 mortos e 170 mil deslocados nos confrontos Tailândia‑Camboja

33 mortos e 170 mil deslocados nos confrontos Tailândia‑Camboja
  • out, 19 2025
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Os confrontos fronteiriços entre Tailândia e Camboja deixaram, nesta sexta‑feira, 26 de julho de 2025, 33 mortos e mais de 170 mil pessoas forçadas a abandonar suas casas.

O saldo, divulgado às 10h UTC+7, inclui 13 vítimas no Camboja – cinco soldados e oito civis – e 18 na Tailândia, entre os quais 13 civis e cinco militares. Os números surgiram depois de três dias de intensos tiroteios ao redor do templo histórico Prasat Ta Muen Thom, localizado na fronteira entre a província tailandesa de Surin e a cambojana de Oddar Meanchey.

Contexto histórico da disputa

O templo, erguido no século XI sob o Império Khmer, tem sido ponto de tensão desde os mapas coloniais franceses de 1904 e 1907. Embora a Corte Internacional de Justiça tenha reconhecido a soberania cambojana sobre o vizinho Preah Vihear em 1962, a delimitação exata da fronteira ao redor de Prasat Ta Muen Thom permanece incerta.

Segundo documentos do Ministério das Relações Exteriores do Camboja, confrontos esporádicos datam de 2008, com episódios mais graves em 2011 e 2016. Desde fevereiro de 2025, negociações sobre a demarcação de 4,6 km de fronteira estavam em pausa, criando um caldo de cultivo para o que hoje se tornou um conflito aberto.

Desenvolvimento dos confrontos (24‑26/07)

Na quinta‑feira, 24 de julho, por volta das 08h00 UTC+7, o exército tailandês lançou um ataque aéreo com caça F‑16. As autoridades tailandesas relataram a destruição de um alvo militar cambojano próximo ao templo. A Associated Press transmitiu imagens de moradores tailandeses correndo para bunkers de concreto em Surin, enquanto explosões ecoavam ao fundo.

O Ministério da Saúde tailandês confirmou, às 16h00, 11 civis mortos e 14 feridos por aquele bombardeio. O Ministério da Defesa cambojano, por sua vez, atribuiu a retaliação a forças locais, mas não deu detalhes sobre o número de vítimas naquele instante.

Na sexta‑feira, 25 de julho, o número de deslocados disparou: 58 mil tailandeses buscaram refúgio em abrigos temporários nas quatro províncias fronteiriças, enquanto 35 mil cambojanos fugiam de áreas próximas ao templo, segundo a porta‑voz do Ministério da Defesa cambojano Maly Socheata, Porta‑voz do Ministério da Defesa.

O Ministério da Saúde tailandês informou, ainda nessa data, que 13 civis haviam falecido no total, elevando o total de mortos tailandeses para 18 ao final do dia.

Os combates continuaram até a manhã de sábado, 26 de julho, com relatos de artilharia pesada e disparos de fuzil a curta distância. Equipes de avaliação sísmica do Instituto Geológico dos Estados Unidos detectaram 23 detonações superiores a magnitude 2,0 na escala Richter entre 24 e 26 de julho, confirmando a intensidade dos choques.

Reações governamentais e tentativas de mediação

Em coletiva de imprensa realizada em Banguecoque às 14h30, Maris Sangiampongsa, Ministro das Relações Exteriores da Tailândia reforçou o compromisso de buscar solução pacífica, citando “os princípios do direito internacional”. O discurso incluiu um apelo ao Camboja para “retomar o processo de negociação bilateral”.

Do lado cambodjano, o primeiro‑ministro Hun Manet, Primeiro‑ministro do Camboja acusou a Tailândia de iniciar o ataque aéreo, mas, ao mesmo tempo, manifestou apoio ao cessar‑fogo proposto pelo presidente rotativo da ASEAN, Anwar Ibrahim, Presidente da ASEAN e Primeiro‑ministro da Malásia.

Representantes da ASEAN, com sede em Jacarta, confirmaram que uma equipe técnica chegaria a Bangkok e Phnom Penh antes do meio‑dia de domingo, 27 de julho, para mediar as negociações. O comunicado conjunto, divulgado às 18h00 UTC+7 de sábado, sinalizou a expectativa de um cessar‑fogo total até terça‑feira, 29 de julho.

Impacto humanitário e resposta internacional

Impacto humanitário e resposta internacional

Os números de deslocados são alarmantes: 138 mil tailandeses e 35 mil cambojanos, totalizando mais de 170 mil pessoas. O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) relatou a presença de 12 equipes médicas da Cruz Vermelha tailandesa e 7 da cambojana, além de três hospitais de campanha em Oddar Meanchey e cinco em Surin.

Entre as vítimas civis cambojanas, constam três mulheres – Srey Mom (42 anos), Chou Chamroeun (38 anos) e Tep Sreytouch (29 anos) – e cinco homens da vila de Ta Muen Thom. No lado tailandês, o 21º Batalhão de Infantaria Real Sedentário de Surin perdeu cinco soldados, entre eles o sargento‑major Anupong Paochinda (38 anos).

Organizações de direitos humanos alertam para o risco de minas não detonadas nas áreas bombardeadas e recomendam a criação de corredores seguros para a população civil. Até agora, nenhuma das partes declarou vitória, mas ambas parecem pressionadas a aceitar a mediação da ASEAN para evitar uma escalada regional.

Perspectivas de mediação e próximos passos

Se a equipe da ASEAN conseguir chegar a tempo, o próximo passo será a elaboração de um acordo de desmilitarização temporária da zona ao redor do templo, com monitoramento de observadores internacionais.

Analistas de segurança do Sudeste Asiático apontam que, apesar da história de disputas, a pressão interna dos deslocados – que agora dependem de ajuda humanitária – pode forçar os governos a buscar uma solução rápida. Ainda assim, a questão da demarcação fronteiriça permanece aberta e tem potencial de reavivar tensões nos próximos anos.

O que ficou claro é que a tragédia humanitária já ultrapassou o âmbito militar. Enquanto diplomatas trabalham nos bastidores, milhares de famílias ainda aguardam instruções sobre onde reconstruir suas vidas.

Perguntas Frequentes

Quantos civis foram mortos em cada lado?

No Camboja, oito civis perderam a vida, entre eles três mulheres. Na Tailândia, treze civis foram mortos, a maioria moradores da província de Surin.

Qual é a origem da disputa territorial?

A controvérsia remonta ao século XI, quando o templo Prasat Ta Muen Thom foi erigido. Mapas coloniais franceses de 1904/1907 e decisões parciais da CIJ alimentam divergências sobre a soberania da área.

Quantas pessoas foram deslocadas pelo conflito?

Mais de 173 mil pessoas deixaram suas casas: cerca de 138 mil tailandeses e 35 mil cambojanos, segundo dados dos Ministérios da Saúde de ambos os países.

Qual é o papel da ASEAN na mediação?

A ASEAN, sob a presidência rotativa do primeiro‑ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, enviará uma equipe de observadores e técnicos a Bangkok e Phnom Penh até 27 de julho para conduzir negociações de cessar‑fogo e definir um plano de desmilitarização.

O que especialistas dizem sobre a possibilidade de um acordo duradouro?

Especialistas em segurança regional acreditam que, embora um cessar‑fogo seja viável a curto prazo, a definição definitiva da fronteira exigirá anos de negociações e apoio internacional, sobretudo para lidar com minas e deslocados.

1 Comment

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    Luciana Barros

    outubro 19, 2025 AT 19:23

    Os números alarmantes de mortos e deslocados evidenciam a urgência de uma solução diplomática imediata.

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